quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Por que morte de cruz?


Esta pergunta parece absolutamente retórica, sem qualquer valor espiritual, já que o fato ao qual nos referimos está perdido em um passado milenar, que não vai ser alterado por nada.

Observe que a história está marcada por personagens que foram martirizados em favor de uma causa, não existindo, porém, a figura da cruz como o instrumento de punição.

Tiradentes foi enforcado, Abraão Lincoln e Gandhi alvejados por armas de fogo, a legendária Joana D\' arc queimada na fogueira, Sócrates foi forçado a se envenenar com sicuta, muitos cristão foram fuzilados e decapitados em países que repudiavam a mensagem de Cristo.

Contudo, Jesus morreu na cruz.

Por que isso teria acontecido? Simplesmente pelo fato de os romanos utilizarem tal método de castigo? Para que sua morte, no monte Gólgota, fosse vista por mais pessoas? Essa é a nossa questão básica a ser respondida.

A busca dessa resposta nos permitirá penetrar no campo da atuação divina, o que para nós é fundamental, uma vez que a ação de Deus ocorre com base na própria Palavra, cujo conhecimento liberta (Jo 8:32).

Para efeito de simplificação, vamos dividir nossa análise em itens:

2 - A AÇÃO DE DEUS EM RELAÇÃO AO HOMEM

2.1 - Deus nos criou e sabe exatamente qual é a nossa estrutura.
Sabe que somos pó (Sal 103:14)

2.2 - O Senhor tem determinado unir o homem a si mesmo, nos moldes da proposta que apresentou a Adão e Eva. Deus cria a sua imagem (Gênesis 1 ;26 ); Deus promete enviar um redentor (Gênesis 3:15); Pensamentos de Paz (Jeremias 29:11).

2.3 - Deus espera certas ações de nossa parte, mas elas não são de natureza transcendental, mas sim humana. Lança teu cuidado (I Pedro 5 ;7); Quem crer será salvo (Mc 16:16); Clama (Jeremias 33:3); Busca (Jeremias 29:13).

2.4 - A iniciativa de remir a humanidade partiu de Deus, e por isso Ele se fez carne, por meio de Cristo, e não permitiu que ninguém da terra fosse feito de natureza divina. O verbo se fez carne (João 1:14); Não há outros deuses (Êxodo 20: 3-5).

2.5 - Deus nos ama e está disposto a transformar nosso viver, mas Ele mesmo, com base na sua justiça, não muda jamais, cumprindo estritamente suas promessas. Não é homem para mentir...(Nm 23:19).

2.6 - Uma avaliação sobre as promessas e os eventos da missão de Jesus:

O evento prometido e o cumprimento

Referência da promessa

Referência do cumprimento

Jesus nascido em Belém

Mq 5 :2

Mt 2 ;1

Filho de uma virgem

Isa 7 : 14

Mt 1 :23

Contado entre malfeitores

Isa 53: 12;

Mc 15:28:Lucas 22: 35-38

Sem ossos quebrados

Jo 19:36: Ex 12:46; Nm 9:12;Sal 34:20

Jo 19:33

Sepultado em lugar de ricos

Isa 53:9

Jô 19:38-42; Mat 27:57

Lançaram sorte sobre suas roupas

Salmos 22:18

Mateus 27:35

Ressurreto no terceiro dia

Salmos 16:10

Jô 20:1-10; Mat 28: 1-10

Sorte sobre suas vestes

Salmos 22:18

Lc 23:34; Jo 19:23-24

Transpassado

Jô 19:37

Zac 12:10; Ap 1:7

3 - AS REGRAS DO SACRIFICÍO DE CRISTO

3.1 - A morte de Cristo seria para a remissão e isso exigia sangue.
Sem sangue não há remissão (Hb 9:22: I Ped 1 ;19; Ef 1 ;17).

3.2 - Jesus nos substituiu como alvo da maldição
Maldito o que for pendurado no madeiro (Deuteronômio 21:23 e Gálatas 3:13).

3.3 - Ele tomou sobre si as nossas enfermidades , e isso através de suas pisaduras.
Pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53:5).

4 - UMA ANÁLISE DAS ALTERNATIVAS

Diante desses requisitos seria possível fazer uma análise das alternativas que estariam a disposição dos algozes de Cristo naquela época, e que o levariam à morte, de qualquer forma o que, em tese, atenderia à missão do Mestre, que era “dar sua vida em resgate de muitos (Jo 10:28).

Alternativas de morte Os efeitos restritivos diante da promessa divina
Enforcamento Sem sangue/ sem maldição
Ferido por lança Algum sangue/ferimento local
Apedrejamento Algum sangue/ sem maldição
Fome ou sede Sem sangue/ sem pisaduras
Envenenamento Sem sangue/ sem pisaduras
Fogo Sem derramar sangue/sem maldição
Afogamento Sem sangue/ sem pisaduras
“Fuzilado” por flechas Sem derramamento de sangue

5 - CARACTERIZAÇÃO DO SACRIFÍCIO DE CRISTO

Façamos, agora, faremos UMA ANÁLISE DO SACRIFÍCIO DE JESUS , para avaliar se ele atendeu os requisitos nos quais as outras formas de morte falhariam.

Característica Elementos Referência
Maldição Cruz Dt 21:23
Derramar sangue Coroa/cravos/lança Hb 9:22
Pisaduras Mãos / pés / cabeça / tronco / órgãos internos Isa 53:5

6 - UMA PONDERAÇÃO ESPECÍFICA

6.1 - É interessante notar, em benefício do nosso esclarecimento dos fatos bíblicos, que o procedimento de crucificar não era algo típico dos judeus, pois apesar de ser prática conhecida, era considerada uma maldição para aqueles que assim viessem a ser castigados. A fórmula bíblica de punição do Velho Testamento era a “lapidação”, ou seja, o apedrejamento.

Crucificar era fórmula usada pelos romanos, que não por coincidência, exerciam domínio político sobre os judeus na época de Jesus. A crucificação expressava a demonstração pública de punição para aqueles que se opunham a César.

6.2 - Cristo iniciou seu martírio antes mesmo de ser preso, e ali no jardim onde orava verteu suor em gotas de sangue, algo que pode acontecer em situações extremas, conforme afirmam os médicos (Jo 19:34; I Jo 5: 6,8).

6.3 - Essa particularidade, das gotas de sangue que porejaram da testa do Mestre, nos leva a entender que Ele levou sobre si não somente os males evidentemente físicos que podem nos afligir, mas, igualmente, aquelas mazelas que atingem nossa alma e espírito nos dias de hoje, uma vez que tal evento derivou da profunda tristeza que envolveu Jesus naquele horto. (Isaías 53:3-5; Salmos 103:3).

6.3.1 - Cravos nos pés e mãos cobrem as enfermidades dos nossos membros (Jo 20:25).

6.3.2 - A coroa de espinhos, as bofetadas, os golpes de cana em sua cabeça mostram que essa importante parte do nosso corpo, a “cabeça”, teve sua parcela coberta nos sofrimentos de Jesus (Marcos 15:17-19).

6.3.3 - Suas costas foram cortadas profundamente pelo chicote duplo utilizado pelos romanos, cujas pontas tinham duas bolas de chumbo, em uma série de açoites que não respeitaram o limite da lei judaica de 40 chibatadas.

Além das costas, os ombros e as pernas eram atingidos pelos golpes que cortavam a pele e depois penetravam até os músculos, mas na parte superior do tronco a maior quantidade de sangue foi vertido, pois o manto que colocaram sobre Jesus por algum tempo para o escarnecerem, foi retirado subitamente, provocando nova hemorragia, como ocorre na retirada, sem cuidado, de uma bandagem.

Esse detalhe nos levaria a ter certeza de que todas as enfermidades que atingem nosso tronco teriam sido levadas por Cristo. Mas e aquelas dos órgão internos?

O fato de Jesus ter sido transpassado por uma lança, em um golpe que atingiu seu coração na parte externa, que produziu água, e na parte interna, que verteu sangue, caracteriza a resposta a nossa inquietação, uma vez que também nossos órgãos internos são cobertos pelo sacrifício da cruz.

O transpassar da lança, que ocorreu após a morte de Jesus ,provocou a saída de sangue e água, resultantes de uma característica da morte que dilacerou seu coração, comprova que Jesus não morreu de asfixia, que representava o objetivo básico da crucificação, mas sim de um ataque cardíaco, provocado pelo choque do sofrimento maior do Mestre, que foi sua separação momentânea de Deus. Tal situação levou a pela contrição do coração por fluídos no pericárdio (Marcos 15:34).

6.3.4 - Jesus foi separado do Pai, com quem esteve desde a eternidade (Jo 1:1-2), para que nós pudéssemos ter acesso a Ele, Deus Pai, de tal maneira que na morte de Cristo o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mateus 27:51).

6.3.5 - As gotas de sangue vertidas com o suor representam o elemento de cura para aquelas lutas não geradas no âmbito do físico, mas que procedem do nosso interior, ligadas a alma e ao espírito, tais como: o medo, a dúvida, a tristeza, a depressão, os rancores guardados, e tantos outros (Lucas 22:44).

7 - AS POSSÍVEIS CONCLUSÕES

A análise desse aspecto da história bíblica nos mostra que Deus não age ao sabor de um momento em que, estando satisfeito ou irado, responderá passionalmente às nossas atitudes.

Tal conceito é importante na medida em que podemos estar tranqüilos de que tudo o que for semeado voltará para nós dentro de seu padrão inicial.

Jesus já advertia que Deus não nos dá algo diferente do que pedimos (Lucas 11: 5-13), e esse pedir tem origem em pensamentos, palavras e ações.

O plano divino existe desde a eternidade, e embora não possamos alcançar a sua profundidade, e até mesmo possamos duvidar de sua exatidão, ele vai se cumprir com total precisão.

Nossa maior dificuldade, conforme registrou Pedro (II Pe 3:8), reside no tempo, pois Deus não tem pressa e nós temos, de tal maneira que procuramos “atalhos” para obter coisas que dependem exclusivamente da decisão do “Chefe”.

Imagine-se diante de um cofre “espiritual” que abriga um grande tesouro, que lhe tenha sido doado, mas cuja fechadura possui um mecanismo de tempo. O que adiantaria ficar batendo na porta, lamentando, gritando? O que importa é esperar o momento eterno que não vai atrasar nem adiantar.

Minúcias são aportadas pela Palavra em relação às promessas divinas. Mesmo quando parecem insignificantes são respeitadas por aquele que as cria (haja luz, e ouve luz Gen 1:3 x as virgens sem luz nas lâmpadas Mt 25: 1-13) , pois se Ele pode todas as coisas, por outro lado, respeita as regras que estabeleceu conosco.

Pode parecer, as vezes, que Deus está lá, assentado em seu trono, alheio a você, que não se importa com as “coisinhas” que o incomodam, mas a realidade de Cristo mostra que isso não procede, e que o Senhor está atento aos detalhes, uma vez que seu único trabalho, que envolve uma atitude “física” e que tem participantes externos, é aquele que está dirigido para nós.

Um Deus que trabalha (Isa 64:4); Tudo sob controle divino. Até os cabelos de nossa cabeça (Mat 10:30) .

Pastor Elcio